Finanças corporativas
A mensuração do valor dos ativos deixou de ser um exercício exclusivamente financeiro para se tornar um processo estratégico, regulatório e multidimensional. Em um ambiente de negócios marcado por maior escrutínio de investidores, auditorias e órgãos reguladores, o valuation passa a incorporar não apenas projeções econômicas tradicionais, mas também riscos e oportunidades associados à sustentabilidade e às mudanças climáticas.
Nesse contexto, o IFRS 13, ao estabelecer os princípios para a mensuração do valor justo (fair value), e as normas IFRS S1 e IFRS S2, voltadas à divulgação de riscos de sustentabilidade e climáticos, passam a atuar de forma complementar. Juntas, essas normas redefinem as premissas utilizadas nos modelos de valuation, influenciando fluxos de caixa projetados, taxas de desconto, vida útil dos ativos e, consequentemente, o valor econômico atribuído a empresas, projetos e ativos.
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O valuation passou a ocupar uma posição central em um ambiente regulatório cada vez mais rigoroso e integrado. O que antes era tratado como um exercício predominantemente financeiro hoje é impactado por exigências contábeis, regulatórias, ambientais e de governança, que ampliam o nível de responsabilidade técnica associado à mensuração de valor.
Investidores institucionais, auditorias independentes e órgãos reguladores demandam avaliações que não apenas apresentem números, mas que sejam tecnicamente consistentes, transparentes e plenamente defendíveis. Nesse cenário, a incorporação de riscos não financeiros deixa de ser opcional e passa a influenciar diretamente a percepção de valor econômico.
A criação do ISSB e a publicação das normas IFRS S1 e IFRS S2 consolidam essa mudança ao conectar, de forma explícita, riscos de sustentabilidade e climáticos ao desempenho financeiro futuro das empresas. O valuation, por sua vez, torna-se o principal instrumento para traduzir esses riscos em impactos mensuráveis sobre fluxos de caixa, taxas de desconto, vida útil dos ativos e cenários de longo prazo.
Nesse novo contexto, avaliações que ignoram fatores regulatórios, ambientais ou setoriais tendem a enfrentar questionamentos crescentes em auditorias, processos de M&A, testes de impairment e análises de investimento.
O IFRS 13 – Mensuração do Valor Justo estabelece um arcabouço único e consistente para a determinação do valor justo, aplicável a diferentes ativos e passivos, sempre que essa base de mensuração for exigida por outras normas contábeis. Seu principal objetivo é garantir comparabilidade, transparência e consistência nas avaliações, reduzindo subjetividades excessivas.
De acordo com o IFRS 13, o valor justo é definido como o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada, entre participantes de mercado, na data de mensuração. Essa definição reforça que o valor deve refletir uma perspectiva de mercado, e não premissas específicas da entidade avaliada.
A norma enfatiza que a mensuração deve considerar:
Para estruturar a aplicação prática, o IFRS 13 define a hierarquia do valor justo, classificando as informações utilizadas em três níveis:
O IFRS 13 e as normas IFRS S1 e IFRS S2 tratam de dimensões distintas, porém complementares, da informação corporativa. Enquanto o IFRS 13 define como mensurar o valor justo, as normas do ISSB estabelecem quais riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade e ao clima devem ser identificados, divulgados e gerenciados, especialmente quando possuem potencial impacto financeiro relevante.
O ponto de conexão entre essas normas está no conceito de materialidade financeira. O IFRS S1 exige que as empresas divulguem riscos e oportunidades de sustentabilidade que possam afetar sua posição financeira, desempenho e fluxos de caixa no curto, médio e longo prazo. Já o IFRS S2 aprofunda essa exigência ao focar especificamente nos riscos e oportunidades relacionados ao clima, incluindo riscos físicos e de transição.
Esses riscos, quando considerados materialmente relevantes, devem ser incorporados aos modelos de valuation, sob pena de o valor justo apurado não refletir as condições reais de mercado exigidas pelo IFRS 13. Na prática, isso significa que fatores climáticos e de sustentabilidade passam a influenciar diretamente:

As normas IFRS S1 e IFRS S2 ampliam de forma significativa o escopo do valuation ao exigir que riscos e oportunidades de sustentabilidade e climáticos financeiramente relevantes sejam incorporados de maneira estruturada aos modelos de avaliação. Na prática, isso altera não apenas as premissas, mas também a arquitetura dos modelos financeiros utilizados.
Os riscos identificados sob as normas IFRS S1 e S2 impactam diretamente as projeções operacionais.
Entre os principais efeitos estão:
A incorporação de riscos ESG e climáticos influencia a percepção de risco pelos participantes de mercado, afetando diretamente o custo de capital.
Nos modelos de valuation, isso pode se traduzir em:
As normas IFRS S1 e S2 incentivam o uso de cenários alternativos, especialmente para capturar incertezas de longo prazo.
No valuation, isso implica:
Riscos climáticos e regulatórios podem afetar a vida útil dos ativos, especialmente em setores intensivos em capital, como infraestrutura, energia e real estate.
Isso impacta diretamente:
As exigências das normas IFRS S1 e S2 elevam o padrão de documentação, rastreabilidade e justificativa das premissas.
Os modelos de valuation passam a demandar:
No contexto regulatório atual, o valuation deixa de ser apenas um instrumento de mensuração contábil para se consolidar como uma ferramenta estratégica de gestão de riscos. A integração entre IFRS 13, IFRS S1 e IFRS S2 amplia o papel do valuation, permitindo que riscos financeiros, operacionais, regulatórios e climáticos sejam identificados, quantificados e incorporados de forma estruturada às decisões corporativas.
O valuation exige a identificação dos fatores que afetam a geração de valor ao longo do tempo. Ao alinhar o processo de avaliação às exigências das normas IFRS S1 e S2, a empresa passa a mapear, de forma sistemática, riscos físicos, riscos de transição, riscos regulatórios e riscos operacionais, priorizando aqueles com potencial impacto financeiro material.
Diferentemente de abordagens qualitativas, o valuation traduz riscos em impactos mensuráveis, seja por meio de ajustes nos fluxos de caixa, no custo de capital ou no valor residual.
Essa quantificação permite comparar riscos sob uma base econômica comum, avaliar o efeito financeiro de diferentes estratégias de mitigação, e apoiar decisões de investimento, desinvestimento ou reestruturação.
A modelagem de cenários é um dos principais instrumentos para a gestão de riscos. O valuation possibilita testar diferentes trajetórias regulatórias e climáticas, a sensibilidade do valor a variáveis críticas e a capacidade de adaptação do modelo de negócio a choques externos.
Ao incorporar riscos de forma transparente e documentada, o valuation passa a subsidiar decisões em nível executivo e de conselho, apoiando o planejamento estratégico, a alocação eficiente de capital, a definição de prioridades de mitigação e adaptação, e a comunicação clara com investidores, auditorias e reguladores.
O valuation não deve ser tratado como um exercício pontual. Em um ambiente de riscos dinâmicos, especialmente climáticos, ele se torna uma ferramenta viva, sujeita a revisões periódicas conforme mudanças de cenário, novas regulações ou eventos relevantes.
A integração entre IFRS 13 e IFRS S1/S2 redefine o valuation, elevando-o de um mero exercício contábil para uma ferramenta estratégica essencial de mensuração de valor, gestão de riscos e suporte à tomada de decisão. Incorporar riscos climáticos, oportunidades de sustentabilidade e premissas financeiras coerentes permite que empresas obtenham avaliações mais precisas, defendíveis e alinhadas às exigências do mercado e dos reguladores.
Em um ambiente de negócios cada vez mais complexo, contar com consultorias especializadas, independentes e multidisciplinares é fundamental para garantir que o valuation não apenas atenda às normas, mas traga valor estratégico real para a empresa.
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O valuation deixou de ser apenas um exercício financeiro e passou a ser um processo estratégico e regulatório, pressionado por maior escrutínio de investidores, auditorias e órgãos reguladores. Hoje, além das projeções econômicas, ele incorpora riscos e oportunidades de sustentabilidade e mudanças climáticas, influenciando diretamente premissas como fluxo de caixa, taxa de desconto e vida útil dos ativos.
O IFRS 13 – Mensuração do Valor Justo estabelece um arcabouço único para determinar o valor justo (fair value) sempre que outras normas exigirem essa base de mensuração. O objetivo é aumentar comparabilidade, transparência e consistência, reduzindo subjetividades excessivas.
Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo (ou pago pela transferência de um passivo) em uma transação não forçada, entre participantes de mercado, na data de mensuração. Isso reforça a perspectiva de mercado, e não apenas premissas “internas” da empresa.
São agentes independentes, informados e dispostos a negociar, cujas premissas refletem condições reais de mercado na data-base. Na prática, isso significa que o valuation deve buscar premissas que o mercado usaria, e não apenas suposições convenientes para a entidade.
É o conceito de que um ativo deve ser mensurado considerando o uso mais vantajoso economicamente (quando aplicável), isto é, o uso que maximizaria seu valor para participantes de mercado, respeitando viabilidade física, legal e econômica.
O IFRS 13 classifica os inputs de valuation conforme observabilidade: Nível 1: preços cotados em mercados ativos para itens idênticos. Nível 2: inputs observáveis (diretos ou indiretos), mas não preços de Nível 1. Nível 3: premissas não observáveis, usadas quando não há dados de mercado suficientes.
São normas do ISSB que tratam de divulgação (disclosure) de: IFRS S1: riscos e oportunidades de sustentabilidade com potencial de afetar posição financeira, desempenho e fluxos de caixa. IFRS S2: foco específico em riscos e oportunidades relacionados ao clima, incluindo riscos físicos e riscos de transição.
A ligação está na materialidade financeira: se riscos de sustentabilidade e clima podem afetar fluxos de caixa e desempenho, eles precisam ser refletidos em premissas que o mercado consideraria. Caso contrário, o valor justo calculado pode não representar adequadamente as condições reais exigidas pelo IFRS 13.
Em geral, envolve: riscos físicos (eventos extremos, mudanças de regime climático, impactos operacionais); riscos de transição (regulação, tecnologia, mudança de demanda, pressão competitiva e reputação).
Eles impactam diretamente as premissas operacionais, por exemplo: aumento de custos operacionais e de capital por exigências ambientais/regulatórias; capex adicional para adaptação e transição; mudança de demanda, mix de produtos e receitas; risco de interrupção operacional por eventos climático
Ao mudar a percepção de risco do negócio para participantes de mercado, pode haver: ajustes em prêmio de risco; diferenciação de taxas por unidade/ativo; reavaliação de parâmetros de risco setorial (ex.: beta) quando aplicável
Porque riscos climáticos e de sustentabilidade aumentam a incerteza, especialmente no longo prazo. Assim, o valuation tende a demandar: cenários alternativos (transição acelerada vs. tardia, por exemplo); impactos sob diferentes premissas regulatórias/tecnológicas; sensibilidade das variáveis críticas (capex, margem, volume, preço, custo de capital etc.).
Sim. Riscos climáticos e regulatórios podem encurtar ou alterar a vida útil econômica e o valor residual, especialmente em setores intensivos em capital como infraestrutura, energia e real estate. Isso muda o horizonte de projeção e afeta avaliações, impairment e fair value.
Aumenta o nível de exigência por: evidências claras dos riscos identificados; conexão explícita entre riscos divulgados e ajustes financeiros; rastreabilidade e justificativa das premissas; governança robusta na revisão e validação do modelo.
Porque, se os riscos são financeiramente relevantes e divulgáveis pelas normas S1/S2, ignorá-los pode levar a um valor que não represente condições reais de mercado — aumentando risco de questionamento em auditorias, M&A, impairment e processos regulatórios.
O valuation pode: estruturar o mapeamento de riscos (físicos, transição, regulatórios e operacionais); quantificar impactos econômicos (fluxos, desconto, residual); testar resiliência via cenários e sensibilidade; apoiar decisões em nível executivo e conselho (alocação de capital, mitigação, desinvestimentos); funcionar como ferramenta “viva”, com atualização periódica de premissas.
Não existe uma regra única, mas a lógica do seu texto é clara: ele não deve ser um exercício pontual. Em ambientes dinâmicos (especialmente climáticos), o valuation tende a exigir revisões periódicas quando há mudanças regulatórias, eventos relevantes ou alterações significativas de premissas.
A integração redefine o valuation, elevando-o de um exercício contábil para uma ferramenta estratégica de mensuração de valor e gestão de riscos. Incorporar riscos climáticos e de sustentabilidade torna a avaliação mais precisa, defendível e alinhada às exigências do mercado e reguladores.

Especialista em finanças corporativas com foco em modelagem econômico financeiro e laudos regulatórios.
Realizou diversos trabalhos para fins de desestatização de concessões, avaliações de participações societárias de entes públicos e privados, alocações do preço de compra em combinação de negócios (PPA) e marcação de cotas de fundos.
Possui MBA no Setor Elétrico pela FGV, graduação em Administração de Empresas pelo IBMEC e é Consultor de Valores Mobiliários certificado pela CVM.
Avaliações econômico-financeiras com uma abordagem altamente customizada.
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