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Finanças corporativas
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A Natura está encerrando de vez o capítulo mais ambicioso de sua trajetória recente: o de ser uma gigante global da beleza. Depois de quase uma década tentando ganhar o mundo, a companhia brasileira decidiu voltar às suas origens. O plano agora é simplificar a estrutura, focar no mercado nacional — onde sempre foi mais forte — e corrigir os efeitos colaterais de uma internacionalização que, na prática, trouxe mais custos e complexidade do que resultados.
A decisão será oficializada em 25 de abril, data em que os acionistas da empresa se reúnem para votar a incorporação da holding Natura & Co pela antiga Natura Cosméticos. Essa reestruturação marca o fim do modelo criado para viabilizar a expansão global e simboliza o retorno à “Natura original”, anterior às grandes aquisições internacionais.
Nos últimos anos, a Natura investiu pesado na compra de marcas fora do Brasil. Primeiro veio a australiana Aesop, em 2013, depois a britânica The Body Shop, em 2017, e finalmente a americana Avon, em 2019 — esta última um dos maiores nomes da história da indústria cosmética. Com essas aquisições, a empresa passou a atuar em mais de 100 países. Mas o projeto se revelou inviável. A operação global se tornou cara, ineficiente e difícil de administrar. Em 2023, a companhia deu início a um processo de desglobalização. Vendeu a Aesop à L’Oréal por US$ 2,525 bilhões e a The Body Shop ao grupo alemão Aurelius por US$ 254 milhões. Agora, resta concluir a venda da operação da Avon fora da América Latina, que continua registrando prejuízos e está em recuperação judicial nos Estados Unidos.
Mesmo após essas vendas, os resultados ainda são negativos. Em 2024, a Natura & Co registrou um prejuízo líquido de R$ 8,9 bilhões, apesar da receita líquida de R$ 24 bilhões, com crescimento de 21,5% em relação ao ano anterior. Segundo o mercado, a saída da operação internacional da Avon é um passo essencial para equilibrar as finanças e reduzir a estrutura inchada que se formou com a tentativa de ser global.
Essa nova fase também traz mudanças na liderança. Fabio Barbosa, atual CEO da holding, deixará a função executiva para assumir a presidência do conselho de administração. Quem assume como novo CEO da companhia é João Paulo Ferreira, executivo com longa passagem pela Unilever e que já comandava a Natura Cosméticos. Ferreira traz uma visão mais objetiva e voltada à eficiência, mas sem renunciar ao compromisso histórico da marca com questões sociais e ambientais. Em entrevistas, ele reforça que a biodiversidade brasileira continuará sendo o grande diferencial da empresa, que pretende transformá-la em inovação de alto desempenho.
A volta às origens não significa abandonar o modelo de impacto positivo que sempre caracterizou a Natura. Muito pelo contrário. A empresa quer provar que propósito e rentabilidade não são excludentes. Mas agora, com os pés mais firmes no chão, a ideia é mostrar resultados concretos e reconquistar a confiança dos investidores. O processo de simplificação inclui o retorno do protagonismo da rede de 1,6 milhão de consultoras no Brasil — um modelo que, apesar de tradicional, ainda é o principal canal de vendas da marca. O reforço na presença digital e nas lojas físicas em shoppings faz parte de uma estratégia multicanal, mas sem perder o DNA baseado na proximidade com o consumidor.
A governança também vive uma mudança importante. O trio de fundadores — Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos — começa a transferir o bastão para uma nova geração de executivos. Ao longo das décadas, os três imprimiram à empresa valores únicos: espiritualidade, sustentabilidade, gestão técnica e engajamento social. Agora, a missão dos novos líderes será manter esse legado vivo enquanto adaptam a empresa aos desafios atuais de consumo, tecnologia e rentabilidade.
Menos é mais: A expansão internacional não funcionou como esperado. Agora, a Natura quer ser mais simples e eficiente, atuando onde ela realmente conhece: no Brasil.
Venda da Avon é o passo final: A operação da Avon fora da América Latina não dá lucro e pesa nas contas. Vender esse braço vai ajudar a empresa a voltar a ser rentável.
O DNA da marca segue vivo: Mesmo com mudanças na liderança e estrutura, a Natura quer manter seus valores de sustentabilidade, inovação e impacto social — só que agora com os pés no chão e foco em resultado.
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O terreno do Jockey Club de São Paulo, com mais de 600 mil m² em área nobre na Marginal Pinheiros, voltou a chamar atenção de incorporadoras e fundos imobiliários. O motivo? Um novo pedido de recuperação judicial (RJ) da entidade reacendeu a possibilidade de compra da área sem herdar suas dívidas, estimadas em mais de R$ 500 milhões.
Com apenas 300 sócios remanescentes — já teve 9 mil — e um turfe em declínio, o Jockey perdeu prestígio, público e receita. Shows, que já foram outra fonte de renda, também migraram para estádios. Agora, o clube sobrevive com locações para eventos e casamentos. A unidade de Campinas já foi levada a leilão, avaliada em R$ 170 milhões, para pagar parte das dívidas.
Apesar disso, o Jockey ainda resiste à ideia de se desfazer totalmente do terreno. A diretoria pretende manter algumas estruturas tombadas e preservar parte da pista. Mas esse desejo pode esbarrar na realidade jurídica: o Tribunal de Justiça de São Paulo começou a julgar o pedido de RJ, embora a legislação não permita que associações civis entrem nesse tipo de processo — um dos entraves apontados pelo relator do caso.
Ainda assim, há precedentes no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que favoreceram entidades similares, o que pode reverter a decisão local. Enquanto isso, o mercado imobiliário se organiza para uma eventual disputa por partes do terreno, caso a RJ avance. O plano seria dividir o interesse entre várias empresas, o que facilitaria a aprovação de projetos e reduziria resistência legal e urbanística.
A localização do Jockey é estratégica, vizinha a bairros como Jardim Paulistano e Jardim Europa, mas a área está classificada como Zona Especial de Preservação Ambiental (Zepam) e tombada pelos órgãos municipal e estadual de patrimônio. Isso impõe limites, como altura máxima de 10 metros nas construções, o que pode dificultar projetos de maior porte.
Ainda assim, com a escassez de terrenos para novos empreendimentos de alto padrão, o apetite do setor permanece alto. A disputa jurídica e urbanística deve ser longa, mas já está em curso — e promete movimentar o setor nos próximos anos.
Terreno cobiçado, mas com freios legais: O Jockey está em uma das regiões mais valorizadas de SP, mas tombamentos e restrições urbanísticas limitam o que pode ser construído ali.
Pedido de recuperação judicial pode destravar vendas: Se aceito, o processo de RJ permitiria a venda de partes do terreno sem que os compradores assumam as dívidas — o que aumenta o interesse do mercado.
Modelo coletivo atrai incorporadoras: Incorporadoras devem agir em conjunto, disputando fatias menores do terreno, o que dilui riscos e pressiona pela aprovação de novos projetos.
O grupo varejista St Marche, dono dos supermercados de mesmo nome e do Empório Santa Maria, entrou com pedido de recuperação extrajudicial para reorganizar uma dívida financeira de R$ 528 milhões. A medida faz parte de um plano mais amplo de reestruturação que envolve novo financiamento, diluição do atual controlador e a busca por um comprador estratégico.
O processo vinha sendo preparado desde março e teve início formal com um pedido protocolado na quarta-feira à noite. A ideia é obter R$ 127,5 milhões em novo crédito, com apoio de credores. Em troca, os investidores que toparem aportar recursos receberão bônus de subscrição, o que pode garantir a eles até 65% da empresa no futuro.
Esse movimento resultará na redução da participação do fundo L Catterton, que hoje detém o controle da companhia. Atualmente, o fundo possui 65% do capital, além de ações preferenciais que garantem 99% dos direitos econômicos. Com o novo plano, sua fatia cairá para 35%, deixando de ser majoritário.
Do total da dívida, R$ 275 milhões estão com o fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) gerido pelo BTG, que já manifestou apoio ao plano. Outros R$ 230 milhões estão em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), muitos deles nas mãos de investidores pessoas físicas — sendo que cerca de R$ 50 milhões desses títulos, por terem garantias, ficarão fora da reestruturação.
Além do BTG, o Banco do Brasil é outro credor relevante. Alguns bancos, como o Santander, fecharam acordos bilaterais com a empresa e também ficaram fora do escopo do processo. A proposta também prevê alongamento do pagamento de parte da dívida em condições bastante estendidas: uma parcela será paga em 7 anos com carência de 5, e o restante, em 30 anos, com correções indexadas à TR limitada a 1% ao ano.
O novo empréstimo, chamado de DIP (debtor-in-possession), terá taxa de CDI + 7% ao ano, vencimento em nove meses e poderá ser prorrogado por mais três, caso a empresa ainda não tenha sido vendida. Como garantia, os investidores terão acesso às ações da holding STM e da empresa Hortus, que controla as operações do St Marche, além das próprias marcas.
Os recursos serão usados para pagar dívidas com fornecedores — que somavam R$ 42 milhões em fevereiro — e recompor estoques. A expectativa da empresa é que esse respiro financeiro ajude a manter as operações enquanto avança na busca por um comprador.
Atualmente, a Vinci Partners assessora o grupo nessa procura. Quatro interessados já conversaram com a empresa, incluindo uma rede de varejo estrangeira e um player de supermercados premium do Sul do Brasil. O valor de mercado estimado gira em torno de R$ 600 milhões, sem considerar a dívida.
Nos primeiros nove meses de 2024, o grupo faturou R$ 971 milhões, alta de 8,9% sobre o mesmo período de 2023. Mesmo assim, o caixa ficou negativo em R$ 10 milhões em janeiro, evidenciando a necessidade urgente de liquidez.
Diluição do controle para salvar a empresa: O fundo controlador vai perder a maioria na empresa, permitindo que novos investidores entrem com dinheiro e assumam parte do negócio — é uma troca: menos poder por mais fôlego.
Plano dá prioridade a quem emprestar agora: Credores que toparem o novo financiamento poderão, no futuro, virar sócios majoritários, se a empresa for vendida ou o empréstimo vencido. É um incentivo para atrair dinheiro fresco.
Alívio no caixa e tempo para vender: O objetivo imediato é pagar fornecedores e manter as prateleiras cheias, ganhando tempo para negociar a venda do negócio. Isso reduz a pressão e evita uma crise operacional maior.
A Galoppo, gestora especializada em imóveis logísticos, acaba de captar R$ 1 bilhão para lançar um fundo voltado à construção de um grande condomínio de galpões em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo. O terreno de 1,2 milhão de m², às margens do Rodoanel e com acesso fácil pela Rodovia Castello Branco, deve abrigar cerca de 270 mil m² de área locável, provavelmente divididos em três estruturas.
O projeto chega em um bom momento para o setor, impulsionado pelo crescimento do ecommerce, que tem mantido a vacância baixa e puxado os preços de locação acima da inflação — algo que não acontecia há mais de uma década. Segundo o CEO Claudio Algranti, o tamanho e a localização do terreno tornaram a proposta atrativa, mesmo com os juros altos no país.
As obras devem levar 36 meses para serem concluídas, após a fase de incorporação e licenciamento. O projeto já tem um primeiro inquilino encaminhado: a Luft Logistics, que assinou carta de intenção para ocupar 100 mil m², com contrato previsto para ao menos cinco anos.
Os 170 mil m² restantes devem atrair empresas de ecommerce, varejo, indústria de alimentos e distribuição. Há também planos para destinar até 10% do terreno para data centers, dependendo da viabilidade energética. A região já abriga grandes operações desse tipo, como a da Scala Data Centers.
O fundo tem um prazo inicial de seis anos, com possível prorrogação por mais dois, e a ideia da gestora é manter o ativo em operação por um tempo antes de vender, mirando ganho de capital. A Galoppo também prepara novos projetos: entre eles, um empreendimento intermodal de R$ 400 milhões em Campinas (já 100% financiado) e novas aquisições previstas via o fundo BlueCap Log (BLOG11), listado na bolsa, que possui um pipeline de R$ 300 milhões.
Por que esse terreno é valioso: Terrenos grandes e bem localizados como esse são raríssimos hoje no entorno de São Paulo. Ele permite construir galpões de grande porte, próximos a vias importantes, o que atrai logística e ecommerce.
Por que o setor de galpões está em alta: O crescimento do comércio eletrônico mantém a demanda alta por centros de distribuição. Com poucas opções disponíveis, os preços de aluguel estão subindo — mesmo com os juros em alta.
A estratégia da Galoppo: A gestora quer desenvolver, alugar e, mais tarde, vender o empreendimento para gerar lucro com a valorização. Enquanto isso, foca em atrair inquilinos sólidos e manter a ocupação.
A gestora Península, responsável pelos investimentos da família Diniz, vendeu toda sua participação no Carrefour Brasil, embolsando R$ 850 milhões. A venda foi feita na Bolsa de Valores, com as ações negociadas a um preço médio de R$ 8,20, totalizando 103,47 milhões de papéis, ou 4,9% do capital da rede de supermercados.
A saída ocorre dias antes da assembleia decisiva sobre o fechamento de capital da companhia, remarcada para o dia 25. O grupo francês Carrefour, controlador da operação no Brasil, elevou o valor da oferta de R$ 7,70 para R$ 8,50 por ação, avaliando a empresa em R$ 17,9 bilhões.
Apesar de ter vendido abaixo do novo valor proposto, a Península não poderia votar na assembleia por estar vinculada a um acordo de acionistas que expirou no mesmo dia da venda. Quem comprou os papéis, no entanto, poderá participar da votação.
Investidores como o BCI (Canadá) e a Wishbone Partners (EUA) criticaram o valor anterior, mas com o aumento da proposta, analistas acreditam que a aprovação agora está mais provável.
Outra mudança recente foi o desmembramento da fatia antes compartilhada com o fundo soberano de Cingapura (GIC), que hoje detém 2,4% do capital da varejista e, segundo fontes, deve aceitar a nova oferta da matriz francesa.
Península saiu antes da decisão final: Mesmo com a valorização da oferta de fechamento, a gestora optou por vender suas ações um pouco antes e garantir o caixa, ficando fora da votação da assembleia.
Carrefour elevou o preço para convencer acionistas: O aumento da proposta de R$ 7,70 para R$ 8,50 por ação foi uma tentativa de acalmar os minoritários e facilitar a aprovação do fechamento de capital na B3.
Quem comprou agora tem poder de voto: A nova leva de acionistas — que compraram os papéis da Península — pode participar da votação, o que pode influenciar diretamente o futuro da empresa na bolsa.
A centenária Bialetti, famosa pela criação da cafeteira moka em 1933 — símbolo do design industrial italiano — foi comprada pela NUO Capital, gestora ligada à bilionária família Pao Cheng, de Hong Kong. Com o negócio, a empresa deixará de ser listada na bolsa de Milão.
A cafeteira moka, inventada por Alfonso Bialetti, conquistou cozinhas do mundo todo e chegou até a ser exposta no MoMA, em Nova York. Apesar do prestígio, a companhia vinha enfrentando sérias dificuldades financeiras, com dívidas que somam mais de €81 milhões — podendo ultrapassar os €100 milhões, segundo a imprensa.
A NUO Capital vai comprar 78,6% da Bialetti por €53 milhões (R$ 351 milhões), além de lançar uma oferta pelas ações restantes a €0,467 cada. O acordo inclui ainda um plano de refinanciamento da dívida de até €75 milhões e um investimento adicional de pelo menos €49,5 milhões na operação.
A estratégia da Bialetti nos últimos anos — baseada na abertura de lojas físicas e diversificação de produtos — foi afetada pela pandemia e pela concorrência com máquinas de café em cápsula. Em 2024, a empresa registrou prejuízo de €1,1 milhão.
O CEO Egidio Cozzi continuará à frente da operação. O negócio ainda depende de aprovação do governo italiano e de reguladores financeiros.
Venda após anos de crise: Mesmo sendo um símbolo do design italiano, a empresa não conseguiu se adaptar bem à concorrência moderna e acumulou grandes dívidas.
A nova dona é uma gestora chinesa ligada a uma família bilionária: A NUO Capital quer recuperar a empresa com um pacote de investimento e reestruturação financeira.
Apesar da venda, a Bialetti continua italiana — por enquanto: O CEO segue no cargo e a produção permanece local, mas a gestão estratégica e os recursos agora vêm do exterior.
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