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Depreciação de bens ociosos: como é feita?

Depreciação de bens ociosos

A depreciação é um conceito fundamental na contabilidade, que representa a perda de valor dos ativos ao longo do tempo devido ao desgaste, obsolescência ou uso contínuo.

O que muitos empresários não sabem é que os bens ociosos, como máquinas paradas, veículos sem uso ou imóveis desocupados, podem representar um grande impacto para a gestão patrimonial e financeira das companhias. Afinal, não é porque os ativos não estão em uso que eles não possuem implicações diretas nos resultados contábeis e fiscais, podendo inclusive afetar o balanço patrimonial e a apuração dos impostos.

Neste artigo, vamos explicar como funciona a depreciação de bens ociosos, quais regras contábeis e fiscais se aplicam e quais são as melhores práticas para uma gestão eficiente desses ativos. Continue a leitura!

Entendendo os conceitos de depreciação e ociosidade

O que é depreciação?

De forma resumida, a depreciação é a perda de valor de um ativo ao longo de sua vida útil devido ao seu uso, obsolescência ou desgaste natural.

O reconhecimento da perda de valor de bens do ativo imobilizado é identificado através da depreciação. Os termos amortização e exaustão são utilizados para indicar a mesma técnica quando os ativos são incorpóreos ou representam recursos naturais, respectivamente.

Considerando que a depreciação não provoca movimento financeiro na época que é apropriada ao resultado, ela promove a constituição do referido fundo para regeneração da tecnologia e, finaliza o ciclo pelo reinvestimento no novo ativo imobilizado.

Este ciclo, longo no passado, é menor no presente e tende a ser mais curto, haja vista que o fator “obsolescência” vem ocupando um espaço maior na depreciação.

Se os ativos valem pelo potencial de benefícios econômicos que trarão para a organização, a depreciação destes mesmos ativos derivará da diminuição deste potencial, ou seja, da perda de utilidade econômica.

Estoque - bens ociosos

Ociosidade

Agora, é hora de entender a ociosidade de bens que compõem o ativo imobilizado

Ao contrário do que muitos pensam, a depreciação não deve cessar quando o ativo se torna ocioso em decorrência de oscilação no volume de operações.

O fato de alguns bens que compõem o ativo imobilizado estarem temporariamente sem serviço não é motivo para cessar a depreciação. Isso porque não é só o desgaste físico emanado do uso que a impulsiona. A depreciação é impelida por outros fatores, como obsolescência, exposição ao meio ambiente, determinações legais ou contratuais.

Evidentemente que se a empresa estiver usando um método de unidades produzidas, para determinados bens, não haverá depreciação, mas nesse caso o motivo da ausência de depreciação não é a ociosidade, mas sim o método sendo utilizado. Inclusive esse aspecto poderá levar à uma revisão do método de depreciação se a inatividade se estender.

Os bens e direitos que integram o ativo imobilizado serão baixados do patrimônio a qualquer momento, por alienação, sinistro ou quando não mais há expectativa de benefícios econômicos futuros com o seu uso ou venda.

Bens ociosos

Bens ociosos são ativos pertencentes a uma empresa que, por algum motivo, não estão sendo utilizados nas operações produtivas ou administrativas. Apesar de estarem fisicamente presentes no patrimônio da organização, esses bens não contribuem diretamente para a geração de receitas ou para a execução das atividades empresariais.

Os motivos que levam um bem a ficar ocioso podem ser diversos, incluindo:

A existência de bens ociosos pode representar um desafio para a gestão patrimonial e financeira, pois esses ativos continuam consumindo recursos da empresa, seja por custos de armazenamento e manutenção, seja pelo impacto que exercem nos registros contábeis.

Os ativos imobilizados que não estão em uso depreciam?

As eventuais ociosidades decorrentes de flutuações no volume de produção não motivam parada de depreciação, pois ela é influenciada por outros motivos, além do desgaste físico.

De acordo com o CPC 27, “a depreciação não cessa quando o ativo se torna ocioso ou é retirado do uso normal, a não ser que o ativo esteja totalmente depreciado. No entanto, de acordo com os métodos de depreciação pelo uso, a despesa de depreciação pode ser zero enquanto não houver produção”.

Por outro lado, as normas contábeis recomendam que o valor residual, a vida útil e o método de depreciação de um ativo sejam revisados pelo menos ao final de cada exercício e, se as expectativas diferirem das estimativas anteriores, a mudança deve ser contabilizada como mudança de estimativa contábil conforme CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro.

Adicionalmente, há de se levar em conta os planos da empresa em relação ao uso deste ativo: voltará a operar? Será vendido? Será descartado? A depreciação de um ativo deve cessar na data em que o ativo é classificado como mantido para venda. Se pretender vende-lo, deverá aplicar as regras do CPC 31 – Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada.

Finalmente, há de se considerar que para caracterizar um item como ativo, ele deve incorporar um potencial de benefícios econômicos futuros, conforme uma das definições do CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis: “Ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”. Portanto, se não houver a expectativa de contribuição futura, direta ou indireta, ao caixa da empresa, não existe o ativo, e o mesmo deve ser baixado.

Como funciona a depreciação de bens ociosos?

A depreciação de bens ociosos segue princípios contábeis e fiscais semelhantes aos de ativos em uso, com algumas particularidades. A questão central é entender como a perda de valor de um ativo continua ocorrendo, mesmo que ele não esteja sendo utilizado nas operações da empresa. Embora não haja um desgaste físico imediato, o tempo, a obsolescência tecnológica e a perda de utilidade econômica contribuem para a depreciação.

Método de depreciação

A forma como a depreciação de bens ociosos é calculada depende do método de depreciação adotado pela empresa, que deve seguir as normas contábeis (CPC 27) e as regras fiscais. Os métodos mais comuns incluem:

Vida útil dos bens ociosos

A vida útil de um bem ocioso pode ser revista, dependendo do contexto. Por exemplo, se um bem não está sendo utilizado por um longo período, mas ainda tem condições de uso no futuro, a empresa pode continuar depreciando o bem até o final da vida útil estipulada no momento da aquisição.

Contudo, se um bem ocioso perder totalmente sua utilidade, a empresa pode reavaliar sua vida útil e, em alguns casos, ajustar ou interromper a depreciação. A revisão da vida útil deve ser feita com base em avaliações técnicas e normas contábeis para garantir que o valor registrado no ativo reflita sua utilidade real.

Aspectos contábeis e fiscais

De acordo com as normas contábeis (CPC 27), a depreciação deve ser calculada de forma sistemática durante a vida útil do ativo, mesmo quando o bem não está sendo utilizado. Para fins fiscais, a Receita Federal também permite que a depreciação de bens ociosos continue sendo registrada, mas exige que a empresa mantenha documentação que justifique a inatividade do bem e a decisão de continuar com a depreciação.

No entanto, é importante que a empresa não utilize o valor da depreciação como desculpa para omitir a gestão desses bens. A fiscalização pode questionar a validade da depreciação se o ativo permanecer ocioso por tempo excessivo sem justificativa razoável.

Implicações da depreciação de bens ociosos

Embora a depreciação de bens ociosos seja um processo legítimo, a empresa deve estar ciente de que isso pode afetar seus resultados financeiros e o balanço patrimonial. O ativo vai perdendo valor ao longo do tempo, mas sem gerar retorno financeiro imediato. Portanto, é crucial que a empresa acompanhe periodicamente seus bens ociosos e avalie a possibilidade de:

Além disso, a depreciação de bens ociosos pode ter implicações tributárias, já que o valor depreciado reduz o lucro tributável da empresa, diminuindo a carga tributária. Por outro lado, isso também pode ser visto como uma oportunidade para otimizar a gestão fiscal.

Regras contábeis e fiscais para a depreciação de bens ociosos

A depreciação de bens ociosos está sujeita a regras específicas tanto no campo contábil quanto no fiscal, com o objetivo de garantir que as empresas cumpram suas obrigações tributárias e contábeis, mantendo a precisão nos registros de seus ativos. Essas regras visam assegurar que a depreciação de bens ociosos seja feita de maneira adequada, refletindo fielmente o desgaste, a obsolescência ou a perda de utilidade dos bens, mesmo quando não estão sendo utilizados ativamente.

Regras contábeis (CPC 27 – Ativo Imobilizado)

As normas contábeis brasileiras, especialmente o CPC 27 (Ativo Imobilizado), estabelecem que a depreciação deve ser calculada de forma sistemática, ao longo da vida útil do ativo. Mesmo no caso de bens ociosos, a depreciação não é suspensa. Ou seja, o valor do ativo deve ser reduzido ao longo do tempo, independentemente de ele estar sendo utilizado ou não, até que o bem atinja seu valor residual ou que sua vida útil seja revista.

Pontos importantes sobre as regras contábeis:

Regras fiscais (Impostos sobre a Renda – IRPJ, CSLL)

Do ponto de vista fiscal, a Receita Federal segue a premissa de que a depreciação é uma despesa permitida para a apuração do Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Entretanto, para fins fiscais, o tratamento dos bens ociosos pode ter nuances específicas:

Continuidade da depreciação

Mesmo que o bem não esteja sendo utilizado, a depreciação continua sendo permitida para fins de cálculo do IRPJ e da CSLL, desde que o bem permaneça no ativo imobilizado da empresa e não tenha sido baixado. A depreciação fiscal é baseada no valor contábil do ativo, o que significa que, para os bens ociosos, as despesas de depreciação continuam a ser deduzidas da base de cálculo do imposto, desde que a empresa respeite as condições previstas pela legislação.

Revisão da vida útil e valor residual

A Receita Federal permite que a vida útil dos bens ociosos seja revista. Caso um bem ocioso tenha sido reativado ou se sua vida útil for alterada, isso deve ser justificado e documentado pela empresa. Se a empresa decidir não depreciar mais um bem ocioso, ela deve baixá-lo do ativo imobilizado e ajustar suas declarações fiscais.

Depreciação acelerada (Lei 12.973/2014)

A legislação fiscal permite o uso de depreciação acelerada para certos bens, desde que a empresa justifique a necessidade dessa aceleração. Para bens ociosos, isso pode ser aplicável em situações em que a empresa precisa ajustar o valor contábil rapidamente ou recuperar parte do valor imobilizado. A acelerada, no entanto, exige uma análise criteriosa, pois pode ser vista com desconfiança pela fiscalização.

Baixa de bens ociosos

Caso a empresa decida que um bem ocioso não tem mais utilidade, a baixa do ativo é uma opção. A baixa de um bem implica na eliminação de seu valor contábil e fiscal. Quando um bem ocioso é baixado, a depreciação é encerrada, e o valor residual do ativo pode ser reconhecido como ganho ou perda na apuração do IRPJ e CSLL, conforme o caso.

No entanto, a baixa de um ativo só pode ser realizada se houver uma justificativa clara, como: o bem foi vendido; o bem foi totalmente depreciado e não tem mais valor econômico; ou o bem foi destruído ou perdeu sua utilidade de forma irreversível.

Cuidados e obrigações de registro

É importante que a empresa mantenha um controle rigoroso sobre seus bens ociosos e os registros contábeis e fiscais relativos à depreciação. A documentação que justifica a inatividade do ativo deve ser clara e acessível para auditorias internas ou externas, caso haja necessidade de revisão pela Receita Federal ou pela auditoria independente.

As empresas também devem garantir que os bens ociosos sejam corretamente classificados em seus balanços patrimoniais, de forma que a depreciação desses bens seja refletida nos demonstrativos financeiros e em suas obrigações fiscais.

Conclusão

A depreciação de bens ociosos é um tema que exige atenção e compreensão profunda das normas contábeis e fiscais, visto que o tratamento adequado desses ativos tem implicações diretas na saúde financeira da empresa e no cumprimento das obrigações tributárias. Embora um bem ocioso não esteja gerando valor imediato para a organização, sua depreciação continua, influenciando tanto o balanço patrimonial quanto a apuração de impostos.

É fundamental que as empresas estejam cientes de que a depreciação de bens ociosos segue as mesmas regras gerais que os ativos em uso, mas que deve ser feita com a devida atenção à vida útil do bem e à justificativa para sua inatividade. Além disso, é importante que as empresas façam uma gestão eficiente desses ativos, reavaliando periodicamente sua utilidade, considerando sua reavaliação para uso futuro ou a baixa quando necessário.

As regras contábeis (CPC 27) e fiscais proporcionam a estrutura necessária para que as empresas lidem corretamente com os bens ociosos, minimizando riscos fiscais e financeiros. No entanto, é essencial que a empresa mantenha um controle rigoroso e transparente sobre seus ativos, para evitar questionamentos e garantir que os registros contábeis e declarações fiscais reflitam de forma precisa a realidade de seus bens e investimentos.

Com o correto tratamento da depreciação de bens ociosos, as empresas podem otimizar sua gestão patrimonial, reduzir custos e melhorar a eficiência tributária, promovendo uma gestão financeira sólida e alinhada às melhores práticas contábeis.

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