Como já falamos anteriormente no artigo: Teste de Impairment: conceito, regras e metodologias, o Teste de Impairment verifica a recuperabilidade dos ativos ao compará-los com seu valor recuperável, que é o maior entre o valor justo líquido de despesas de venda e o valor em uso, conforme definido pelo CPC 01 (R1). Uma vez procedida a avaliação a valor justo dos ativos aplica-se o teste comparando-o ao saldo contábil dos mesmos. Caso o valor justo seja inferior ao valor contábil, podemos dizer que houve Impairment.
Sempre que houver Impairment, a empresa deve reconhecer a perda por desvalorização de ativos e registrar a baixa contábil da diferença nas Demonstrações Financeiras, debitando-se a conta de “perda por desvalorização de ativos” (resultado) e creditando-se uma conta redutora do ativo correspondente.
O que muitos ainda têm dúvidas é sobre os impactos de uma possível baixa contábil para a empresa.Embora o teste de impairment represente um ajuste contábil sem impacto direto no caixa, ele pode influenciar o fluxo de caixa futuro indiretamente, por meio da redução de tributos (como IRPJ/CSLL), desde que observadas as regras fiscais aplicáveis.
No entanto, outros impactos podem ocorrer, como afetar o valor da empresa e até mesmo diminuir a confiança dos investidores.
Quando as despesas são apuradas pelo regime de competência, mensuradas a partir do resultado contábil, como é caso do imposto de renda e bonificações / participações no lucro, o fluxo de caixa é afetado pela redução do pagamento de despesas que são apuradas no lucro contábil. Neste caso, a perda no valor do ativo fará com que os investidores paguem menos pela ação daquela empresa.
O que é baixa contábil e teste de impairment?
No mundo contábil, o processo de baixa contábil e a realização do teste de impairment são fundamentais para garantir a precisão e a transparência nas demonstrações financeiras de uma empresa. Embora ambos os conceitos envolvam a avaliação de ativos, eles têm objetivos e implicações distintas. Vamos entender o que cada um significa e como se relacionam.
Baixa contábil: o que é?
A baixa contábil é o processo pelo qual um ativo é removido dos registros financeiros de uma empresa. Isso pode ocorrer por diversas razões, como a venda, desvalorização, obsolescência ou perda permanente de valor de um ativo. A baixa contábil pode afetar diferentes tipos de ativos, como imóveis, máquinas, equipamentos, intangíveis ou investimentos, e tem implicações diretas no balanço patrimonial da empresa.
O objetivo principal da baixa contábil é ajustar os valores registrados dos ativos para refletir sua realidade econômica. Quando um ativo perde seu valor de mercado ou se torna inutilizável, a empresa precisa ajustar os valores contábeis, para que as demonstrações financeiras não mostrem um valor superior ao que o ativo realmente representa para a organização.
Teste de Impairment: o que é?
O teste de impairment, também conhecido como teste de recuperabilidade, é uma avaliação que as empresas realizam periodicamente para verificar se o valor registrado de um ativo é recuperável. Ou seja, ele tem como objetivo determinar se o valor contábil de um ativo (ou unidade geradora de caixa) está superior ao seu valor recuperável — que é o maior valor entre o valor justo (com base no preço de mercado) e o valor em uso (o valor presente dos fluxos de caixa futuros gerados pelo ativo).
Caso o valor contábil de um ativo ultrapasse o seu valor recuperável, é necessário realizar uma baixa contábil, registrando a perda por impairment. Isso implica uma redução no valor do ativo e uma ajuste nas demonstrações financeiras, impactando diretamente o lucro da empresa. O teste de impairment é essencial para garantir que os ativos estão sendo registrados de acordo com seu valor real e não apenas com base em estimativas antigas ou inflacionadas.
Relação entre baixa contábil e teste de impairment
Embora ambos os conceitos estejam relacionados à avaliação de ativos, a baixa contábil é o ato de remover o ativo de forma definitiva ou ajustar seu valor, enquanto o teste de impairment é o processo utilizado para verificar se essa baixa contábil é necessária. Em outras palavras, o teste de impairment antecede a baixa contábil, sendo o mecanismo que identifica quando é necessário realizar ajustes nos valores dos ativos.
Quando uma empresa identifica que o valor recuperável de um ativo é inferior ao valor registrado, ela deve registrar a baixa contábil correspondente, ajustando o valor do ativo no balanço patrimonial. Esse processo é fundamental para manter a fidedignidade das informações financeiras, evitando que a empresa apresente uma posição financeira inflacionada ou distorcida.
Impactos da baixa contábil nos demonstrativos financeiros
A baixa contábil decorrente do Teste de Impairment pode afetar significativamente os demonstrativos financeiros de uma empresa. Esse impacto se reflete principalmente no Balanço Patrimonial, na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e nos indicadores financeiros.
No Balanço Patrimonial, a baixa contábil reduz o valor contábil do ativo, diminuindo o total de ativos da empresa. Essa redução pode afetar o patrimônio líquido, caso a perda não tenha sido previamente reconhecida em contas de ajustes patrimoniais.
Na DRE, a despesa com impairment é registrada como uma perda, reduzindo o lucro operacional e, consequentemente, o lucro líquido do período. Isso pode impactar diretamente métricas como EBITDA, margem de lucro e retorno sobre ativos (ROA).
Além disso, a baixa contábil pode afetar a percepção dos investidores e credores, uma vez que demonstra a necessidade de ajuste no valor de ativos, possivelmente indicando deterioração no desempenho da empresa. Dependendo do impacto, pode até influenciar decisões estratégicas, como reestruturações ou ajustes na política de investimentos.
Portanto, é essencial que as empresas realizem um acompanhamento contínuo de seus ativos e apliquem o Teste de Impairment corretamente para evitar surpresas negativas nos demonstrativos financeiros.
Conheça os tipos mais comuns de baixas contábeis
A baixa contábil decorrente do Teste de Impairment tem reflexos diretos no valuation de uma empresa e pode influenciar decisões estratégicas de investidores, gestores e credores. Como essa perda afeta os demonstrativos financeiros, ela impacta métricas essenciais utilizadas para avaliar o desempenho da empresa e sua atratividade no mercado.
1. Impacto no valuation da empresa
Redução do valor patrimonial
A baixa contábil diminui o valor dos ativos no Balanço Patrimonial, afetando diretamente o patrimônio líquido da empresa. Como muitas metodologias de valuation, como o Price-to-Book (P/B), utilizam esse indicador, o valor de mercado pode sofrer alterações após um ajuste por impairment.
Efeito sobre múltiplos financeiros
O reconhecimento de impairment impacta o lucro líquido e o EBITDA, que são métricas-chave em avaliações baseadas em múltiplos, como P/E (Preço/Lucro) e EV/EBITDA. Empresas que apresentam baixas recorrentes podem ser vistas como menos atrativas pelos investidores.
Percepção do mercado e confiança dos investidores
A baixa contábil pode gerar questionamentos sobre a capacidade da empresa de gerar valor no longo prazo. Uma perda significativa pode indicar ativos superavaliados ou dificuldades operacionais, impactando o preço das ações e a avaliação por agências de rating.
2. Influência na tomada de decisão
Revisão de estratégias de investimento
Empresas que enfrentam baixas contábeis frequentes podem precisar reavaliar seus ativos, repensar investimentos futuros e focar em ativos mais rentáveis.
Dificuldade na captação de recursos
Caso a baixa contábil afete indicadores como índice de endividamento e retorno sobre ativos (ROA), a empresa pode enfrentar desafios na negociação de financiamentos, pois os credores consideram esses fatores ao avaliar o risco de concessão de crédito.
Impacto em fusões e aquisições (M&A)
O valuation de empresas em processos de fusão ou aquisição pode ser impactado, pois potenciais compradores analisam os ativos e passivos para determinar o preço justo. Um impairment elevado pode indicar ativos superavaliados, influenciando a negociação.
3. Como mitigar os impactos do impairment no valuation?
- Realizar avaliações periódicas para evitar surpresas com baixas contábeis;
- Melhorar a gestão de ativos para otimizar seu desempenho e valor recuperável;
- Ser transparente na comunicação com investidores, explicando a perda e suas causas;
- Revisar projeções financeiras e ajustar estratégias de investimento para evitar futuras desvalorizações.
A baixa contábil não significa, necessariamente, um problema estrutural, mas seu impacto no valuation exige que empresas tenham uma gestão eficiente de ativos e uma tomada de decisão baseada em dados para minimizar riscos e manter a confiança do mercado.
Conclusão
A baixa contábil no Teste de Impairment é, portanto, um procedimento essencial para garantir que os ativos das empresas estejam refletidos corretamente em seus demonstrativos financeiros. Ao identificar perdas por desvalorização, as organizações não apenas asseguram a transparência contábil, mas também evitam distorções que podem comprometer a tomada de decisão de investidores, credores e gestores.
Entender e aplicar corretamente o Teste de Impairment não é apenas uma exigência contábil, mas também uma estratégia para garantir a solidez e sustentabilidade do negócio no longo prazo.