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Finanças corporativas
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O mercado brasileiro de fusões e aquisições (M&A) teve um primeiro semestre marcado por grandes operações e forte participação de investidores internacionais. De janeiro até 4 de junho, o volume financeiro dessas transações somou R$ 145,1 bilhões, uma alta de 50% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do avanço expressivo em valores, o número de negócios caiu 31%, totalizando 255 transações, segundo dados da consultoria Dealogic.
Essa dinâmica evidencia uma concentração em operações de maior porte, impulsionadas principalmente por empresas estrangeiras e fundos globais que vêm enxergando no Brasil uma combinação atraente de ativos estratégicos, preços competitivos e demanda por diversificação geográfica.
Entre as principais movimentações deste ano, destaca-se a fusão entre Marfrig e BRF, que promete criar uma gigante do setor de alimentos e proteínas, com atuação global e sinergias operacionais significativas.
Outra transação de destaque foi o acordo de R$ 15 bilhões firmado pela J&F Investimentos com a Paper Excellence, envolvendo a compra da totalidade das ações da Eldorado Brasil Celulose, encerrando um longo litígio societário.
No setor de energia, a empresa Serena Energia (antiga Omega Energia) recebeu uma oferta pública de aquisição (OPA) promovida pelos fundos Actis e GIC (de Singapura), reforçando o interesse estrangeiro em ativos de energia renovável no país.
Já no setor de infraestrutura elétrica, o fundo CDPQ, do Canadá, concluiu a aquisição de linhas de transmissão da Equatorial Energia por R$ 10 bilhões, ampliando sua presença em um segmento considerado seguro e rentável.
O aumento das tensões comerciais globais, especialmente entre Estados Unidos e China, tem incentivado empresas e investidores a diversificarem suas operações para além dos mercados tradicionais. Esse movimento beneficiou o Brasil, que passou a ser considerado uma alternativa relevante no mapa estratégico de grandes grupos internacionais.
Enquanto investidores locais mantêm certa cautela frente à conjuntura macroeconômica e política, os estrangeiros vêm participando ativamente dos processos de M&A. Empresas asiáticas, norte-americanas e europeias têm se mostrado mais resilientes às oscilações internas e continuam alocando capital em setores-chave da economia brasileira.
O setor de energia segue como o mais atrativo, mas também há crescente interesse em áreas como mineração, saneamento, agronegócio, tecnologia e infraestrutura logística.
A pressão por eficiência e a persistência de juros elevados têm levado empresas brasileiras a reverem seus ativos. Muitas estão se desfazendo de participações não estratégicas para reduzir dívidas, liberar capital e focar em seus negócios principais. Essa tendência tem impulsionado a oferta de bons ativos no mercado.
Entre as companhias de capital aberto, cresce o movimento de avaliar o portfólio e explorar a venda parcial ou total de ativos, inclusive como forma de destravar valor e sinalizar múltiplos mais atrativos ao mercado.
Com a aproximação de 2026, ano eleitoral, também há um senso de urgência. Empresas estão acelerando seus processos de venda para evitar incertezas regulatórias e operacionais típicas de períodos eleitorais. Essa antecipação deve aumentar o volume de transações no segundo semestre.
Pipeline aquecido e retomada de negociações antigas
Bancos de investimento reportam aumento no número de mandatos em setores como energia, tecnologia e recursos naturais. A atividade de M&A continua aquecida, com um pipeline crescente e perspectivas positivas para o restante do ano.
Parte das transações anunciadas em 2025 estavam em negociação há anos e foram represadas por fatores jurídicos, econômicos ou conjunturais. A melhora na percepção de risco e a maior estabilidade política e fiscal abriram espaço para a retomada desses processos.
Apesar disso, o fechamento dos negócios tem levado mais tempo, pois os investidores seguem cautelosos na hora de formalizar suas ofertas. A análise mais detalhada dos riscos e a busca por condições contratuais mais sólidas refletem uma postura mais estratégica e menos impulsiva, mas não diminuem o apetite por boas oportunidades.
Menos negócios, mas mais dinheiro envolvido: Embora o número de fusões e aquisições tenha diminuído, as operações em 2025 são maiores e mais valiosas, o que impulsionou o crescimento total em volume financeiro.
Interesse estrangeiro está em alta: Investidores internacionais, como fundos do Canadá, Singapura e outros, estão apostando no Brasil, especialmente em setores estratégicos como energia e infraestrutura.
Empresas brasileiras vendendo para se fortalecer: Com os juros altos e a aproximação do ano eleitoral, muitas companhias estão vendendo ativos para reduzir dívidas, focar no essencial e se preparar para o futuro.
A TotalEnergies e a Shell fecharam um acordo estratégico para reorganizar seus portfólios de exploração e produção no Brasil. Pelo acordo, a companhia francesa cedeu 20% de participação no projeto Gato do Mato à Shell e, em troca, recebeu 3% no Campo de Lapa, também localizado na Bacia de Santos.
Com isso, a TotalEnergies ampliou sua presença no Campo de Lapa, passando a deter 48% do ativo, do qual já era operadora. A Shell ficou com 27%, enquanto a Repsol Sinopec mantém os 25% restantes. O Campo de Lapa tem expectativa de produção de 60 mil barris por dia em 2025.
A movimentação reforça o foco da TotalEnergies em ativos com baixo custo e menores emissões de carbono, alinhando-se à sua estratégia de transição energética. A empresa já atua em outros campos relevantes no pré-sal, como Atapu 2 e Sépia 2.
Do outro lado, a Shell fortalece sua posição no projeto Gato do Mato, onde agora detém 70% de participação e segue como operadora. Os 30% restantes continuam com a Ecopetrol, da Colômbia. A decisão de desenvolver o campo foi tomada em março deste ano.
Essa troca permite às empresas reforçar posições estratégicas em projetos com maior aderência às suas metas técnicas, operacionais e ambientais.
Acordo é uma troca estratégica de ativos: As empresas reorganizaram suas participações para reforçar presença onde têm mais interesse técnico e comercial.
TotalEnergies aposta em ativos de menor emissão: Ao aumentar sua fatia no Campo de Lapa, a companhia reforça seu foco em operações com menor impacto ambiental e maior eficiência.
Shell lidera projeto promissor no pré-sal: Com 70% do Gato do Mato, a empresa britânica concentra esforços em um ativo com potencial de longo prazo no Brasil.
O setor de bares e restaurantes no Brasil acaba de ganhar um novo protagonista com a união do Grupo Alife Nino e o Grupo Drumattos, formando um dos maiores conglomerados de food service e hospitalidade do país.
A operação envolve a aquisição, pelo Alife Nino, da participação detida pela Vinci Partners no Drumattos, além de uma fatia adicional da própria holding. O resultado é um grupo com 16 marcas, 110 unidades próprias e 35 franquias, distribuídas em 20 estados nas cinco regiões do Brasil, reunindo mais de 5 mil colaboradores.
A nova estrutura projeta um faturamento de R$ 1,1 bilhão em 2025, colocando o grupo entre os 10 maiores do setor no país. A estratégia da fusão é clara: ganhar escala, acelerar a expansão e manter o foco na qualidade da operação e na experiência do cliente.
Enquanto o Drumattos traz força no segmento de frutos do mar, com marcas como Camarada Camarão e Camarão & Cia, o Alife Nino soma nomes reconhecidos como Nino Cucina, Tatu Bola, Boteco Boa Praça, entre outros. Juntas, as empresas somam experiência em gastronomia, entretenimento e gestão eficiente.
A nova fase prevê expansão sustentável, entrada em novos mercados e a valorização das marcas já existentes, com atenção à rentabilidade e inovação.
Fusão fortalece a presença nacional: A união amplia o alcance geográfico das marcas e consolida uma operação robusta, com forte presença em todas as regiões do país.
Diversificação com marcas complementares: As empresas se unem com propostas gastronômicas diferentes, combinando alta gastronomia, bares temáticos e redes especializadas em frutos do mar.
Foco em crescimento sustentável: A nova estrutura busca expansão com responsabilidade, mantendo a qualidade dos serviços e a rentabilidade das unidades.
O Grupo Fleury concluiu a compra de 100% da Confiance Medicina Diagnóstica, uma das principais redes de análises clínicas da região de Campinas, por R$ 130 milhões. Com a aquisição, a empresa reforça sua atuação no interior de São Paulo, ampliando sua capilaridade e capacidade de atendimento em uma região estratégica para o setor de saúde.
Fundada em 1997, a Confiance é reconhecida por sua presença consolidada em sete cidades: Campinas, Indaiatuba, Valinhos, Vinhedo, Hortolândia, Paulínia e Sumaré. A empresa opera com 25 unidades laboratoriais e realiza cerca de 5,8 milhões de exames por ano, oferecendo também serviços de coleta domiciliar, uma modalidade de atendimento que vem crescendo em demanda e importância no setor de diagnóstico.
Em termos financeiros, a rede adquirida registrou uma receita anual de R$ 103 milhões, sinalizando uma operação sólida e com bom desempenho regional. A aquisição foi aprovada pelo conselho de administração do Fleury em novembro de 2024, e referendada pela assembleia geral de acionistas em abril de 2025.
A transação faz parte da estratégia do Grupo Fleury de expansão orgânica e inorgânica, que combina investimentos em novas unidades com aquisições de empresas regionais já consolidadas. Ao incorporar a Confiance ao seu portfólio, o grupo avança na meta de liderar o mercado de medicina diagnóstica com presença nacional e diversificação de canais de atendimento.
Além do reforço territorial, a operação permite ganhos operacionais, integração tecnológica e ampliação da oferta de exames e especialidades. O atendimento domiciliar, em particular, ganha impulso com a estrutura já existente na rede adquirida, respondendo à crescente demanda por comodidade e eficiência no cuidado à saúde.
Crescimento estratégico no interior paulista: A compra amplia a presença do Fleury em uma das regiões economicamente mais relevantes do Brasil, com alta demanda por serviços de saúde e potencial de crescimento contínuo.
Ganho de escala e eficiência: A integração das operações permite ao grupo aumentar sua capacidade de atendimento e reduzir custos operacionais, mantendo a qualidade dos serviços.
Aposta em atendimento mais acessível e conveniente: O fortalecimento da coleta domiciliar responde ao comportamento atual dos pacientes, que buscam praticidade, segurança e conforto nos serviços de saúde.
Com a alta nos preços da Faria Lima, empresas como Amazon, Netflix e Stone estão migrando para a Avenida Rebouças, que vem se consolidando como um novo polo de escritórios de alto padrão em São Paulo.
Nos últimos anos, a Rebouças passou por um forte processo de transformação. Desde 2016, a região começou a atrair empreendimentos modernos, impulsionados pelo Plano Diretor da cidade, que favoreceu construções próximas ao transporte público. O resultado: 14 novos prédios entregues desde então e previsão de atingir 260 mil m² em lajes corporativas, com 190 mil já prontos e outros 70 mil em desenvolvimento.
O preço também pesa na decisão. Enquanto o aluguel médio na Faria Lima ultrapassa R$ 235/m² — chegando a até R$ 400 em alguns casos —, na Rebouças a média é de R$ 156/m², mesmo após uma valorização de 21% no último ano.
Além do custo mais acessível, os novos prédios oferecem lajes maiores, o que permite que empresas concentrem suas operações em um único endereço — algo difícil de se encontrar na Faria Lima.
O projeto Biosquare, por exemplo, está sendo desenvolvido pela GD.8 em parceria com a Kinea e contará com 25 andares e lajes de até 2 mil m². Ele deve ficar pronto em um ano e pode se tornar o novo endereço da Amazon, embora o dado ainda não tenha sido oficialmente confirmado.
Apesar do crescimento, a vacância na Rebouças se mantém controlada (19% no 1º trimestre de 2025), enquanto na Faria Lima é ainda menor (7%), indicando que a demanda segue firme em ambas as regiões. Especialistas veem a Rebouças não como substituta, mas como extensão natural da Faria Lima, absorvendo a demanda excedente de empresas que buscam espaço de qualidade, bem localizado e com melhor custo-benefício.
Custo mais acessível e infraestrutura moderna: A Rebouças oferece escritórios novos com aluguéis significativamente mais baratos que a Faria Lima, sem perder em qualidade.
Localização estratégica com transporte público: A avenida é bem servida por metrô e corredor de ônibus, facilitando o deslocamento de funcionários — um diferencial no pós-pandemia.
Espaço para crescer e operar com eficiência: Os novos prédios têm lajes maiores e mais flexíveis, permitindo que empresas centralizem suas operações em um único edifício, o que nem sempre é possível em áreas saturadas como a Faria Lima.
O mercado reagiu forte à expectativa de que o BTG Pactual formalize, nos próximos dias, a incorporação do Banco Pan. A ação do Pan subiu mais de 6%, com volume de negociação mais que triplicando a média dos últimos 30 dias.
O BTG já detém 76,9% do capital do Pan e, para fechar o capital, precisaria fazer uma oferta pública de aquisição (OPA) pelos 21,6% restantes — operação que exigiria aprovação de dois terços desses acionistas. Há ainda 1,5% das ações em tesouraria.
Apesar de o assunto circular há anos, o mercado enxerga agora um momento propício para a operação. As sinergias entre os dois bancos são evidentes, principalmente na redução de custos, ganhos fiscais e na consolidação de plataformas operacionais.
Desde que assumiu o controle em 2021 (quando comprou a fatia da Caixa), o BTG vem aumentando sua participação no Pan e, nos bastidores, já opera com uma gestão quase totalmente integrada. A troca do CEO em fevereiro por André Luiz Calabro, executivo do próprio BTG, reforçou os sinais de unificação. Outros cargos-chave também são ocupados por profissionais que atuam nos dois bancos, como o jurídico, compliance, tecnologia e B2C.
O CEO do BTG, Roberto Sallouti, já se refere ao Pan como “uma marca do grupo” e aponta a complementaridade entre as operações como estratégica, dado que os dois bancos atuam com perfis de clientes distintos.
A dúvida agora é apenas qual prêmio o BTG estaria disposto a oferecer aos acionistas minoritários.
Integração já está na prática: O Pan opera como se já fosse parte do BTG: equipes compartilhadas, comando centralizado e decisões alinhadas.
OPA se torna o próximo passo lógico: Com quase 80% das ações em mãos, o BTG está perto de fechar o capital do Pan e eliminar a duplicidade de estruturas administrativas e operacionais.
Mercado reagiu com força: A expectativa de valorização e o possível prêmio para acionistas minoritários fizeram o volume de negociações disparar e as ações subirem mais de 50% no ano.
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